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Em quatro meses, 90 mulheres são assassinadas em Pernambuco

21.6.18

/ por casinhas agreste

CIARA CARVALHO
ciaracalves@gmail.com

Os dois filhos, de seis e de um ano, dormiam no quarto ao lado. No outro, o corpo da mãe, Fernanda Priscila de Souza Silva, nu, caído sobre uma poça de sangue. Chegava ao fim, de forma bárbara, uma história iniciada quando a jovem de 20 anos ainda era uma menina. Aos 12, conheceu e se apaixonou por Gustavo Ramos de Morais, 29. Para tristeza e desespero da família, não demorou a engravidar. Aos 14 anos, já era mãe. Durante os oito anos de relacionamento, o ciúme do namorado e, mais tarde marido, sempre foi o principal motivo de discussão entre o casal. Gustavo não queria que ela trabalhasse, usasse roupas curtas e, ultimamente, até a maquiagem dela ele estava controlando. Fernanda já tinha dito a uma amiga que achava que Gustavo um dia ia matá-la. Esse dia foi 10 de abril de 2018.

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Fernanda, que morava em Olinda, no Grande Recife, entrou para as estatísticas de feminicídio, sem que a família tivesse uma noção muito clara dos riscos que a jovem corria. “Era um lobo em pele de cordeiro. Bom para os filhos, trabalhador. Mas tínhamos uma serpente em casa. O ciúme dele era doentio. E a gente não imaginava que esse sentimento de posse pudesse chegar ao ponto de tirar a vida dela”, diz a avó da jovem, Salomé Ferreira de Souza, 73. Foi ela quem encontrou o corpo da neta, despido, no chão do quarto.

Fernanda foi uma das três vítimas de feminicídio em Pernambuco no mês de abril. Os outros dois casos aconteceram na Mata Sul e no Agreste do Estado. Em Água Preta, Evilly Chanandra Silva Queiroz, 18, foi assassinada a tiros, ao lado do atual namorado. O acusado pelo duplo homicídio: o ex-companheiro dela. O casal havia encerrado a relação apenas três dias antes do crime. Já Marinez Ferreira da Cruz, 39, foi morta com um golpe de faca desferido pelo ex-marido, na casa em que morava com a família dele, na cidade de Vertentes.

Nos quatro primeiros meses deste ano, já chega a 21 o número de mulheres assassinadas pela condição de gênero. No total, de janeiro a abril de 2018, os assassinatos de mulheres somam 90 casos. Janeiro: 28. Fevereiro: 26. Março: 23. Abril foi o menos violento: 13 homicídios.



As estatísticas de feminicídio contabilizadas pelo projeto multimídia #UmaPorUma levam em consideração os indiciamentos feitos no âmbito da Polícia Civil somados aos casos denunciados pelo Ministério Público de Pernambuco. Pelos dados oficiais dos relatórios dos inquéritos policiais concluídos, a Secretaria de Defesa Social registrou 16 feminicídios, de janeiro a abril. Os outros cinco casos entraram para a estatística do projeto após a denúncia dos acusados, feita pelo Ministério Público. Cada integrante do sistema de segurança - Polícia Civil, Ministério Público e Judiciário - tem autonomia e competência institucional para decidir pela inclusão ou não da qualificadora de feminicídio.

Como a proposta é acompanhar todos os assassinatos de mulheres praticados no Estado no ano de 2018 (incluindo as etapas processuais de cada caso até a fase do julgamento), os números monitorados pelo #UmaPorUma podem apresentar variações.

Um exemplo: no final do mês passado, quando o projeto foi lançado, o mês de janeiro contabilizava oito feminicídios. Agora, com a atualização dos dados, essa estatística subiu para nove. A diferença foi a inclusão do caso da agricultora Maria Ambrosina da Silva, 61, morta no dia 23 de janeiro, na cidade de Cupira, no Agreste do Estado. Inicialmente o inquérito que investigou a morte da agricultora havia sido concluído como homicídio culposo (quando não há intenção de matar). Mas, após o resultado dos laudos periciais, o entendimento mudou e o caso passou a ser configurado no Ministério Público como homicídio doloso, incluindo a qualificadora de feminicídio. Maria Ambrosina foi morta pelo filho, dentro de casa, na zona rural de Cupira.

O monitoramento é feito por um coletivo de mulheres jornalistas do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. A publicação dos dados segue até o final de janeiro de 2019, quando serão contabilizados os casos de dezembro de 2018. Na atualização deste mês, que acrescenta as histórias de todas as 13 mulheres assassinadas em abril passado, foi implementada no site umaporuma.com.br uma ferramenta de notificação para quem quiser ser alertado para as próximas atualizações do projeto, realizadas sempre no último domingo de cada mês.


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