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Covid-19: "As próximas semanas não serão fáceis", diz Margareth Dalcolmo sobre pandemia de Covid-19 no Brasil

13.6.22

/ por casinhas agreste

Especialista pede mais rigor com medidas não farmacológicas para combater o Sars-CoV-19


“As próximas semanas não serão fáceis”. O alerta é da especialista em coronavírus, a médica, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e integrante do comitê de especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margareth Dalcolmo, em fala à Folha de Pernambuco.

Para Dalcolmo, o momento atual da pandemia de Covid-19 pede a conscientização sobre mais rigor com as medidas não farmacológicas para combater o Sars-CoV-2, como o uso de máscaras de proteção, sobretudo em ambientes fechados, e a higienização das mãos.

“Não precisaria nem que nós fizéssemos os alertas que nós vamos continuar fazendo diariamente: é preciso usar máscaras em ambientes fechados”, diz a médica.
Em Pernambuco, a obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes ao ar livre foi retirada em 29 de março. Pouco menos de um mês depois, em 20 de abril, a medida foi estendida a ambientes fechados. Atualmente, o uso do equipamento é obrigatório apenas em hospitais e farmácias, transporte público e escolas.

Margareth também cita que é preciso avançar com a vacinação para conter o vírus, especialmente de crianças. “É um apelo que eu, pessoalmente, fiz quando estive em Pernambuco três meses atrás e continuarei fazendo: é muito importante que as crianças acima de cinco anos sejam vacinadas com duas doses da vacina para a Covid-19”, afirmou.
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Segundo os dados mais recentes da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), apenas 28,35% das crianças de 5 a 11 anos receberam a segunda dose do imunizante em Pernambuco. O Estado liberou, nos últimos dias, a imunização com a quarta dose para adultos com 50 anos e mais e profissionais de saúde e todos com mais de 18 anos que estão em abrigos após as fortes chuvas.

Com mais de 100 artigos científicos publicados nacional e internacionalmente, Margareth Dalcolmo é um dos principais nomes da comunidade científica brasileira no combate à pandemia de Covid-19. Recentemente, lançou o livro “Um tempo para não esquecer - A visão da ciência no enfrentamento da pandemia do coronavírus e o futuro da saúde”, com tarde de autógrafos no Recife.
A médica Margareth Dalcolmo, no Recife, para lançamento de livro (Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco)

Leia, a seguir, a íntegra da entrevista com Margareth Dalcolmo:

Aumento de casos no Brasil
Não há dúvidas de que há um aumento epidemiológico de casos da Covid-19 a partir do aparecimento das novas variantes e subvariantes da cepa ômicron no mundo e inclusive no Brasil. Não é surpreendente que isso esteja ocorrendo na medida em que nós sabemos que essas cepas têm o que nós chamamos de escape vacinal. Ou seja, elas contaminam pessoas vacinadas mesmo com três, quatro doses de vacina.
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A característica clínica dos casos que nós temos observado é de menor gravidade, exatamente porque as vacinas protegem contra gravidade de doença e evitam hospitalizações e, evidentemente, os procedimentos de doença grave. Então, não há dúvida de que os casos são menos graves, porém, a taxa de transmissão é altíssima. Enquanto que a cepa original da Covid-19 tinha um R (que é aquela taxa de transmissibilidade) de aproximadamente 2,5, 3,0, essas cepas têm R de 10. Ou seja, 100 pessoas contaminam 1000 pessoas. Então, isso faz com que a transmissão da comunidade, considerando que muita gente, digamos, relaxou com as medidas não farmacológicas, sobretudo o uso de máscaras em ambiente fechado - o que eu sou particularmente contra. Eu sempre disse que era para manter o uso de máscara enquanto não houvesse um controle epidêmico mais efetivo e isso foi relaxado muito.

Eu moro no Rio de Janeiro, aqui tem lugares fechados onde está todo mundo sem máscara. Cada festa, cada recepção e cada manifestação que há gera muitos casos. Isto é, o que está acontecendo é o que nós temos visto já um relativo aumento de casos hospitalizados e esses casos estão relacionados a pessoas ou não vacinadas - infelizmente ainda existe gente que não está vacinada, o que é uma tristeza, uma coisa de uma negação absolutamente difícil de nós aceitarmos, considerando a eficácia muito já comprovada das vacinadas, sobretudo no Brasil.

A tragédia no Brasil teria sido muito maior do que já foi se não tivesse tido uma cobertura vacinal tão alta quanto a despeito de todas as nossas adversidades, nós conseguimos alcançar: de 80% da população vacinada pelo menos com duas doses.

Neste momento, eu considero absolutamente crucial que as pessoas retomem as medidas não farmacológicas, isto é, lavagem das mãos, considerando que essa cepa contamina também pelo toque, pelos objetos contaminados com aerossol, perdigotos, esse tipo de contaminação e em ambientes fechados usar máscara o tempo todo, máscara de boa qualidade.
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Uso de máscaras
Não precisaria nem que nós fizéssemos os alertas que nós vamos continuar fazendo diariamente: é preciso usar máscaras em ambientes fechados. A população está vendo pelo aumento do número de casos dentro de suas próprias famílias. Toda família hoje tem alguém doente. Não é uma pessoa só, em geral é marido e mulher, filho, criança, funcionários da casa e muitas pessoas ao mesmo tempo. Eu tenho vários aqui que eu estou acompanhando que são famílias inteiras. Um passa para o outro de maneira muito rápida, inclusive crianças pequenas, que ainda estão fora da faixa etária de vacinação. Uma coisa que é muito importante e que eu sei que em Pernambuco a taxa não está satisfatória é a cobertura vacinal da população pediátrica. Tem muita vacina, tem vacina disponível na rede e as famílias não estão levando no percentual adequado as suas crianças para receberem proteção vacinal. E é um apelo que eu pessoalmente fiz quando estive em Pernambuco três meses atrás e continuarei fazendo: é muito importante que as crianças acima de cinco anos sejam vacinadas com duas doses da vacina para a Covid-19.

Variantes e subvariantes
A subvariante que predomina no Brasil é a BA.2 e já tem detectado pela vigilância genômica feita por nós na Fiocruz de circulação em pequena quantidade, mas já presente e certamente vai aumentar, da BA.4 e BA.5, que são aquelas mais predominantes hoje, por exemplo, no Hemisfério Norte - nos Estados Unidos é a que mais circula. Não há dúvidas, são subvariantes da ômicron 2 com alta capacidade de transmissão.

Doses de reforço
É demonstrado que doses de reforços para Covid-19 são muito importantes. A terceira dose é mais importante do ponto de vista de proteção do que a própria quarta, ela oferece uma taxa de proteção sobre as duas doses anteriores enorme, comprovadamente demonstrado por estudos. A quarta dose ainda corresponde a uma maior taxa de proteção. É muito importante essa medida, estou de acordo que toda a população acima de 50 receba sim as duas doses de reforço. Considero como uma medida de saúde pública correta.

Fim da pandemia?
Eu particularmente tenho uma visão muito clara sobre isso: acho que essa angústia é uma angústia desnecessária. Ninguém está querendo fim de pandemia no sentido assim de o que nós estamos acompanhando da realidade. Não adianta nós querermos algo que é, nesse momento, inalcançável. Esse é o momento em que medidas pessoais e coletivas, solidárias entre as famílias, entre colegas de trabalho, entre grupos de pessoas, como proteger-se a si mesmo e, portanto, aos demais, como receber as vacinas nas doses necessárias, vacinar as crianças, aí nós saberemos que, como a Covid-19 é uma virose aguda de transmissão respiratória, como todas as demais que já houve na história da humanidade, a tendência dela é ir-se aplainando e ir diminuindo ao longo do tempo. Porém, neste momento, ainda não é o momento que nós podemos falar que esteja em desaparecimento, absolutamente. Ela ainda depende de medidas sanitárias muito coletivas e muito precisas. É preciso que as pessoas não gastem a sua angústia com isso. Estão cansadas? Nós não temos sequer o direito de estar cansados, nós temos que continuar nos protegendo e protegendo todas as pessoas que conosco convivem.

Casos graves e mortes
Boletins da Fiocruz já detectaram que a grande maioria dos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag), que ocorrem neste momento, são devido à Covid-19. Então, ao dizer que a maior parte dos casos são leves, sem gravidade, também não estamos dizendo que não haja casos mais graves. Quem são as pessoas que podem evoluir para casos mais graves? São, em primeiro lugar, as não vacinadas, as muito idosas e/ou aquelas que, mesmo não sendo idosas, são portadoras de uma condição imunológica de fragilidade, isto é, transplantados de órgãos, pessoas que usam medicação imunossupressora por longo tempo e que deixam o seu sistema imune mais fragilizado. Essas pessoas e, além disso, as crianças são aquelas que estão contribuindo para o aumento de casos de Srag cuja causa, da maior parte delas, é a Covid-19.

Próximas semanas
Os órgãos de imprensa, que têm se comportado de maneira tão aliada à ciência no Brasil, mantenham esse alerta ainda neste momento permanentemente. As próximas semanas não serão fáceis e todo mundo deve manter o uso de máscaras nas próximas duas a três, quatro semanas no Brasil inteiro, em todas as áreas onde haja contato com pessoas e celebrações, ambientes de trabalho, etc.
















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