Diferentemente de transplantes de órgãos, o transplante ósseo pode ser realizado com uma janela de tempo maior entre a morte do doador e o procedimento
Equipe de ortopedia do Hospital Otávio de Freitas - Foto: Cortesia / Dr Cláudio Marques
Na tarde desta quarta-feira (24), a equipe de ortopedia do Hospital Otávio de Freitas realizou um procedimento nunca feito antes: um transplante ósseo na rede pública estadual de Pernambuco. Para o procedimento, realizado em uma paciente que tem prótese de quadril, foram transplantados ossos em dois lugares: no fêmur e no quadril.
A cirurgia abre um novo leque de possibilidades para pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) em Pernambuco, que agora podem receber o transplante ósseo sem precisar viajar para algum estado da Região Sudeste para ter acesso à cirurgia.
“O transplante ósseo é diferente de um transplante de fígado ou de outros órgãos, em que imediatamente você precisa transferir imediatamente para a pessoa. Nele, quando um paciente é doador, partes de ossos são retiradas e guardadas para um procedimento futuro, o que foi o caso”, explicou o coordenador do grupo de ortopedia da unidade de saúde, Wagner Hermes.
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A operação foi possibilitada por conta de uma proximidade do Hospital Otávio de Freitas, por meio da Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco (SES-PE), com o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), uma instituição nacional de referência em ortopedia localizada no Rio de Janeiro. O Into, através do seu banco de ossos, disponibilizou o osso que deveria ser transplantado para a paciente, que esperava pela cirurgia há dois anos.
Para que o fragmento seja armazenado em um banco de ossos, é preciso uma avaliação em diversos fatores, como órgãos do corpo também o são. A diferença é que para que o osso esteja apto para transplante, ele precisa estar saudável. Isso quer dizer que ele não pode ser desgastado, vindo de uma pessoa que teve câncer ósseo e osteoporose, por exemplo.
Os ossos retirados de um doador, após seu falecimento, podem beneficiar aproximadamente 30 pessoas e aguardar em armazenamento, com baixa temperatura e prensado à vácuo, por até cinco anos.
No transplante ósseo, não é necessário que o osso seja o do mesmo local no doador e no transplantado. Eles precisam ser apenas do mesmo tipo. Há dois tipos: osso trabecular ou esponjoso (que apresenta uma estrutura mais “mole”) e osso cortical (mais duro). É necessária a compatibilidade com o local de transplante.
“Normalmente, quando a gente vai tirar o osso, temos dois tipos de ossos. Há o osso esponjoso (um osso mais mole) e o osso cortical (como o osso do fémur). Se tira tanto um tipo quanto o outro. Quando vamos reconstituir, ele vai ser incorporado à estrutura da pessoa e, com o tempo, vai ser nutrido e vascularizado até virar o osso da pessoa”, explicou Wagner Hermes.
O coordenador de ortopedia ainda informou que em alguns casos o osso é inserido no corpo da pessoa transplantada em forma de fragmentos e, ao decorrer da recuperação, é recuperado e incorporado completamente ao corpo.
Cirurgia
O procedimento realizado nesta quarta-feira foi chefiado por Claudio Marques, cirurgião especialista em cirurgia do quadril. Ele e sua equipe realizaram o procedimento em pouco mais de duas horas.
Foi realizada uma solicitação ao Banco de Osssos pedindo o tipo necessário para a cirurgia da paciente. O Into enviou o material do Rio de Janeiro para que a cirurgia fosse realizada no Recife.
Osso transplantado
“A paciente de hoje tinha uma prótese de quadril com um desgaste muito grande, e ela precisaria de um osso para sustentar aquela prótese. O que fizemos foi tirar o osso que não tinha mais sustentação e colocamos esse enxerto, que veio de outra pessoa, para recompor aquela área e dar sustentação à prótese do quadril”, contou o coordenador Wagner Hermes.
Com a vascularização, o osso que foi transplantado vai se adequar ao corpo da paciente. Logo após a cirurgia, exames de imagem confirmaram que a operação foi realizada com sucesso. Em três meses, a confirmação de transplante bem-sucedido será final. Ao fim de seis a oito meses, a paciente poderá retomar sua vida cotidiana.
“Isso vem beneficiar uma parcela da população que precisaria se deslocar do Recife para o Sudeste do Brasil para fazer esse tipo de cirurgia, o que pelo SUS não é fácil. Agora, a gente está conseguindo fazer isso aqui, na nossa Capital, para pacientes do SUS. É muito importante termos essa nova possibilidade de cirurgia. É uma cirurgia incomum, ainda bem, mas é bom tê-la disponível para a população”, concluiu Wagner Hermes.
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