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Bolsonaro mente e diz a investidores em Dubai que Amazônia 'não pega fogo' e 'ataques' 'não são justos'

15.11.21

/ por casinhas agreste

Durante evento para captação de negócios, presidente convidou árabes a conhecer 'o Brasil de fato'. Dados oficiais mostram que floresta enfrenta recordes de queimadas e desmatamento.
Por Guilherme Mazui, g1 — Dubai
G1

O presidente Jair Bolsonaro afirmou, nesta segunda-feira (15), durante evento com investidores em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que "os ataques que o Brasil sofre em relação à Amazônia não são justos".

Bolsonaro convidou os investidores árabes a conhecer a floresta. Ele mentiu ao dizer que, "por ser uma floresta úmida, não pega fogo."

"Nós queremos que os senhores conheçam o Brasil de fato. Uma viagem e um passeio pela Amazônia é algo fantástico, até para que os senhores vejam que a nossa Amazônia, por ser uma floresta úmida, não pega fogo. Que os senhores vejam realmente o que ela tem. Com toda certeza, uma viagem inesquecível", afirmou Bolsonaro durante a abertura do evento "Invest in Brasil Forum", em Dubai.

Mas a afirmação – semelhante a uma que o presidente fez em discurso na ONU no ano passado – é falsa.

“Afirmar que a floresta é úmida como um todo era algo verdadeiro há 60 ou 70 anos; hoje, com 20% desmatado, isso não é mais um fato", explica o ambientalista Antonio Oviedo, assessor do Instituto Sócio-Ambiental (ISA), ONG presente na Amazônia há 25 anos.

"Ela é úmida em áreas como no interior do Rio Solimões ou no Alto do Rio Negro, onde não tem muitas estradas, mas mesmo lá o fogo já tem entrado, por conta do desmatamento. Quando se fragmenta a floresta em blocos, vem o efeito de borda. Quanto mais bordas tiver, mais seca fica, e facilita a entrada do fogo”, afirma Oviedo.

A diretora de Ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), Ane Alencar, reforça que “o desmatamento, a exploração da madeira e outras atividades humanas mudam a condição da floresta úmida como barreira ao fogo”. O Ipam trabalha desde 1995 pelo desenvolvimento sustentável na região.

Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) também apontam, de forma repetida, os focos de incêndio acima da média na floresta nos últimos meses. Em julho, foram quase 5 mil focos; em agosto, 28 mil.

"Além de turismo, conhecer aquilo que seria um paraíso aqui na Terra. A Amazônia é um patrimônio, a Amazônia é brasileira. E vocês lá comprovarão isso e trarão realmente uma imagem que condiz com a realidade. Os ataques que o Brasil sofre quando se fala em Amazônia não são justos. Lá, mais de 90% daquela área está preservada, está exatamente igual quando foi descoberto no ano de 1500. A Amazônia é fantástica", declarou.

Os dados reunidos por órgãos oficiais desmentem a fala de Bolsonaro. Em agosto deste ano, por exemplo, o número de focos de queimadas na Floresta Amazônica superou a média histórica para o período. Em junho, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou o maior número de focos para o mês em 14 anos.

Entre agosto de 2019 e setembro de 2020, o mesmo Inpe, vinculado ao governo federal, mostrou que mais de um terço dos quase 150 mil focos de queimadas ocorridos na Amazônia no período aconteceram em terras públicas sem destinação.

Bolsonaro ainda afirmou que os países árabes "são um dos parceiros preferidos" pelo Brasil. O presidente disse estar de "portas abertas" para negócios em diferentes áreas, em especial na agricultura.

No sábado, primeiro dia da viagem oficial ao Oriente Médio, Bolsonaro reclamou que o Brasil teria sido "atacado" na COP 26, a Conferência do Clima organizada pela ONU, em Glasgow.

Bolsonaro não foi à COP, mas integrantes do governo representaram o país. A gestão de Bolsonaro vem sendo criticada pela comunidade internacional desde 2019, quando começou o governo, em razão da postura do presidente em relação ao meio ambiente.

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O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, abordou a política ambiental do governo – alvo de críticas de ambientalistas, políticos e celebridades no Brasil e no exterior. Para o chanceler, os esforços do governo contra crimes ambientais, com o uso das Forças Armadas, são “bem-sucedidos”.

“Desde 2019, o governo do Brasil, com o apoio das Forças Armadas e de segurança pública, tem incrementado políticas contra crimes ambientais. Os desafios de cuidar do meio ambiente em um país continental são imensos, mas o governo brasileiro tem envidados esforços bem-sucedidos nesse sentido”, disse.

Em 2020, Bolsonaro recriou o Conselho Nacional da Amazônia Legal, chefiado pelo vice-presidente Hamilton Mourão. O presidente autorizou três operações para que as Forças Armadas combatessem crimes ambientais, contudo, os registros de desmatamento seguiram altos na Amazônia.

França também citou no discurso as metas do Brasil para redução de emissões e de desmatamento, anunciadas durante a conferência sobre o clima da ONU, a COP26, recém-encerrada em Glasgow.

O governo brasileiro faz uma ofensiva para tentar vender a imagem de um país que protege suas florestas. Isso ocorreu na COP26 e prossegue em Dubai. Na Expo 2020, por exemplo, o pavilhão brasileiro fica no distrito da sustentabilidade da exposição universal.


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Viagem ao Oriente Médio
Jair Bolsonaro participou nesta segunda de um fórum de investimentos em Dubai, nos Emirados Árabes, como parte da programação da viagem oficial a países do Oriente Médio. Uma comitiva de ministros acompanhou o presidente no evento.

Bolsonaro está no terceiro dia de agendas nos Emirados Árabes, primeiro destino de uma viagem por três países do Golfo Pérsico. O presidente irá na terça-feira (16) ao Bahrein e na quarta (17) ao Catar com o objetivo de apresentar oportunidades de negócios em áreas como infraestrutura, agricultura e defesa.

O "Invest in Brazil Forum" é organizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), um órgão do governo federal.

Durante a abertura do evento, o presidente também fez propaganda do cargueiro KC-390 fabricado pela Embraer. A aeronave é motivo de atrito entre a fabricante e a Força Aérea Brasileira (FAB), que anunciou a redução da compra de unidades da aeronave – de 28 para 15.

A Embraer declarou que adotará medidas cabíveis em relação ao acordo com a FAB, o que sinaliza um possível litígio na Justiça. O governo deseja abrir uma renegociação com a empresa.

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