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Destaque no Ideb, escola pública passa de 'rejeitada' a referência de Pernambuco, em João Alfredo

21.5.17

/ por casinhas agreste
 
Escola Estadual Nossa Senhora Auxiliadora teve mudança radical de imagem junto à população, alterando presente e futuro de seus alunos e profissionais

Por: Larissa Lins - Diario de Pernambuco

A Escola Estadual Maria Auxiliadora, em João Alfredo, tem 615 alunos e foi destaque no Ideb do estado. Foto: Rafael Martins/DP    


Quando a joão-alfredense Rosimere Fernanda abriu pela primeira vez os portões da Escola Estadual Nossa Senhora Auxiliadora, na região central de João Alfredo, no Agreste pernambucano, soube que sua vida estava prestes a mudar. Formada em letras pela Universidade de Pernambuco (UPE) e pós-graduada em língua portuguesa e gestão escolar, ela assumiu a diretoria do centro educacional em julho de 2014.

Tinha em mãos a missão de reverter os maus resultados do corpo estudantil no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos anos anteriores: em 2013, a unidade de ensino alcançara a média 2,68 – numa escala de 0 a 10 –, de acordo com informações da secretaria do colégio. A rede pública do município como um todo atingira 3,4 no exame, segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Era o pior resultado desde a criação do Ideb, em 2007, considerado a “nota” da educação nacional.

A diretora do centro educacional, Rosimere Fernanda, assumiu o posto em 2014, com a missão de recuperar a imagem da escola. Foto: Rafael Martins/DP    
A diretora do centro educacional, Rosimere Fernanda, assumiu o posto em 2014, com a missão de recuperar a imagem da escola. Foto: Rafael Martins/DP

Com apoio da Gerência Regional de Educação do Vale do Capibaribe, Rosimere começou pintando muros, pátios e as paredes das salas de aula. Preencheu os espaços com flores, personagens de desenho animado, painéis assinados por ex-alunos, grafites ou frases motivacionais. Precisava arrumar a “casa” antes de sentir-se à vontade para ocupá-la. Designada pelo Estado, encabeçava uma equipe encarregada de substituir a antiga gestão da escola, incumbida de propósitos como a recuperação da credibilidade da instituição, melhoria dos resultados dos estudantes nos exames nacionais e restauro da confiança deles no próprio potencial. Uma palavra-chave permeava os planos da nova gestora para isso: afetividade.

“Precisávamos transformar a escola num ambiente convidativo, aconchegante. E conseguimos. Reabrimos a biblioteca, que estava abandonada, criamos uma pracinha num dos pátios, colorimos os corredores. Nos aproximamos dos alunos, trouxemos a família deles para dentro do colégio”, lembra Rosimere Fernanda de Albuquerque da Silva, em atuação na área educacional há 16 anos. “Os alunos passaram a querer frequentar a escola. Hoje se sentem bem aqui, se sentem felizes”, conta a professora de língua portuguesa Rosângela Gomes, que acompanhou as mudanças no local. Os resultados vieram em números. Melhor: em notas. Em 2015, em relação ao 9º ano do Ensino Fundamental, a cidade de João Alfredo obteve nota 5,9 no Ideb, a maior média do estado no segmento. Pernambuco atingiu nota 4,1, superando a meta de 3,6 para aquele ano.

Antes de ser considerada referência, com a transformação pela qual passou nos últimos três anos, a escola era "rejeitada" pela população local. Foto: Rafael Martins/DP    
Antes de ser considerada referência, com a transformação pela qual passou nos últimos três anos, a escola era "rejeitada" pela população local. Foto: Rafael Martins/DP
A evolução se deve, acredita a diretora, à transformação no comportamento dos alunos, professores, funcionários. “Quando mudamos as atitudes, os ambientes mudam. Quando as pessoas estão felizes, estimuladas, elas dão seu melhor”, diz. E cita exemplos da revolução que desencadeou no local: nos seis primeiros meses à frente da escola, entre julho e dezembro de 2014, ela enviou 160 bancas para o conserto. Em 2015, somente três precisaram de reparos. “A educação é a principal ferramenta para transformar pessoas. Nossa parceria com os meninos e suas famílias tornou-se muito forte. E nós os parabenizamos pelos acertos, não apontamos somente os erros. Isso é fundamental”, avalia.

Hoje, o colégio fica restrito ao Ensino Médio e mantém os alunos que tiveram o desempenho acima da média pernambucana no último Ideb. São 615 vagas – todas ocupadas – distribuídas em três turnos, sendo o noturno voltado ao EJA (Educação de Jovens Adultos) e ao Projeto Travessia. Por meio de recursos do governo estadual e federal, todos na Escola Nossa Senhora Auxiliadora têm garantidos o material didático básico (livros, caderno, mochila e uniforme), merenda e transporte escolar. “Cerca de 360 alunos são da Zona Rural de João Alfredo. Através da GRE Vale do Capibaribe, conseguimos alterar o percurso do transporte escolar de modo a contemplar o endereço de todos eles, alguns distantes 25 Km do colégio”, conta Rosimere. Ela tem ido pessoalmente à casa dos alunos faltosos, a maioria com dificuldade em conciliar estudos e trabalho: com a ação, a taxa de evasão no Auxiliadora tornou-se praticamente nula nos últimos três anos. Não é sacrifício, nem campanha por popularidade: “A escola mudou minha vida. Fico feliz se tiver contribuído um pouco para transformá-la também. Mas se hoje eu sou uma educadora realizada, devo isso à escola.”

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Para Verônica de Moura, a timidez foi vencida com apoio da equipe de professores do colégio: "Me senti acolhida", conta. Foto: Rafael Martins/DP    
Para Verônica de Moura, a timidez foi vencida com apoio da equipe de professores do colégio: "Me senti acolhida", conta. Foto: Rafael Martins/DP
Josefa Verônica de Moura Vieira, 16, estuda desde o 6º ano na Escola Estadual Nossa Senhora Auxiliadora. Há alguns anos, quando lhe perguntavam o que desejava ser quando crescesse, se intimidava ao falar da vontade de ser médica e cursar faculdade na capital do estado. Hoje, verbaliza o sonho com segurança. “Preciso deixar as inseguranças de lado e manter o foco. Se eu não acreditar nos meus sonhos, nem lutar por eles, quem vai fazer isso por mim?”, questiona.

Ela se inspira nos bons resultados obtidos por colegas da escola: no ano passado, a terceiranista Joyce Ferreira conseguiu ingressar em medicina na UPE. “Você vai conseguir também!”, dizem. Verônica não duvida. Não mais. Andou pedindo conselhos à professora de língua portuguesa Rosângela Gomes, sua grande incentivadora. “Eles precisam nos ver como amigos, precisamos dar apoio a eles, servir de inspiração, não como figuras autoritárias, temidas”, opina.

"Os professores se dedicam muito, tentam sempre nos colocar para cima, nos estimular", conta a estudante Natália Lopes, 16 anos. Foto: Rafael Martins/DP    
"Os professores se dedicam muito, tentam sempre nos colocar para cima, nos estimular", conta a estudante Natália Lopes, 16 anos. Foto: Rafael Martins/DP
“Pensei em desistir muitas vezes, achava que não seria capaz. A professora Rosângela me disse que eu não desistiria, que eu precisava correr atrás”, lembra Verônica. Tímida, teve problemas de adaptação ao convívio escolar e diz que seu entrosamento se deve à atuação da diretoria e dos professores. Hoje, mais destemida, concorre a uma vaga no projeto Ganhe o Mundo, que promove intercâmbios de alunos da rede pública em outros países, com direito a bolsa de estudos.

Verônica disputa a última fase do processo seletivo com a colega de turma Natália Alzira Lopes Ferreira, também no 2º ano do Ensino Médio. As meninas querem embarcar para o Canadá, onde já esteve a colega Natália Severina dos Santos, pelo mesmo projeto. “Mesmo se não conseguirmos o intercâmbio, nós conquistamos algo todos os dias no colégio. É essa a sensação que eu tenho aqui: de que não estou só cumprindo carga horária, mas aprendendo, crescendo”, conta Natália Alzira. Motivada pelo acompanhamento oferecido pelos funcionários do colégio em momentos de dificuldade em sua vida pessoal, já escolheu o curso que pretende disputar: psicologia.

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