Canibais confessam crimes, mas divergem nos depoimentos
Do NE10
Foto: Hélia Scheppa/ JC Imagem
Veja abaixo todas as informações:

Delegado do inquérito diz que réus confessaram crime e não demonstraram arrependimento
Acusado de canibalismo descreve ritual de morte das vítimas
Isabel Cristina nega participação no assassinato e diz que filha da vítima comeu carne da mãe
Terceira acusada de canibalismo contradiz outros réus em interrogatório
O laudo psiquiátrico foi rebatido não só pela defensora pública Teresa Joacy, representante de Jorge, como já era previsto. Nos interrogatórios do acusado e de Bruna, os dois afirmaram que o exame psiquiátrico foi muito curto para atestar qualquer doença. "Ele (o médico Lamartine Hollanda, perito que elaborou o laudo de sanidade mental que os coloca como imputáveis) me viu, perguntou se eu era Jorge Beltrão e deu explicação que esquizofrenia paranoide não existe. Foi diferente de todos os psiquiatras que me atenderam", afirmou Jorge, o primeiro interrogado. "Eu mal sentei, já levantei. Ele perguntou o meu nome, pediu para eu falar a verdade e logo interrompeu. Me disse que não acredita em Papai Noel nem em chapeuzinho Vermelho, que eu sou uma atriz. Pensei: Meu Deus, esse homem é um psiquiatra ou um promotor?", contou Bruna, a última a falar.
Logo em seguida, foi a vez de Paulo Berenguer, delegado responsável pelo inquérito do assassinato da jovem. Berenguer confirmou que o trio confessou, durante as ouvidas à polícia, ter matado a jovem e praticado o canibalismo. Ainda segundo o delegado, os acusados não teriam demonstrado arrependimento em nenhum momento e já planejavam o assassinato de outras vítimas. A crueldade seria tanto que a filha da vítima, na época com 1 ano de idade, também teria comido carne da mãe. Arrolado pelo MPPE como testemunha de acusação, o delegado afirmou por diversas vezes o modo de execução da vítima. "Dona Isabel entregou a faca, Bruna segurou Jéssica e Jorge deu o golpe na jugular", relatou.
Durante as investigações, ficou comprovado que o trio pretendia continuar com os assassinatos. "Identificamos outras eventuais vítimas que poderiam ser mortas pelo trio, mas os planos foram interrompidos com a prisão dos três (em abril de 2012)", ressaltou Berenguer, afirmando também que não havia uma liderança e sim "uma individualização de conduta". Para o policial, a seita denominada O Cartel foi o modus operandi da execução. "Segundo relatos dos três, eles procuravam mulheres que não tinham nada de positivo para contribuir com a sociedade. Essas pessoas deviam ser eliminadas, assim suas almas seriam purificadas e, na vida terrena, a eliminação contribuiria com o controle populacional. O Cartel serviu para justificar o homicídio praticado. Acreditamos que esse homicídio foi planejado antes, durante e depois", explicou em depoimento.
Em interrogatório que durou uma hora e 46 minutos, Jorge foi o primeiro a confessar o crime. Além de se dizer arrependido, ressaltou a doença mental que diz sofrer - esquizofrenia paranoide - e contou em detalhes o ritual requisitado pela seita O Cartel, que criou, segundo ele, com as outras duas acusadas. Sempre de cabeça erguida e firme, ele ainda admitiu o ato de canibalismo, mas afirmou que nunca vendeu salgados como coxinha ou empada com carne das vítimas, em Garanhuns, no Agreste de Pernambuco, boato divulgado em 2012, quando os crimes foram descobertos. Questionado pela magistrada se houve apenas três homicídios (o trio responde por outras duas mortes, em outro processo), Jorge afirmou que sim. A resposta causou indignação na plateia. O réu fechou os olhos e agradeceu a Deus a oportunidade de estar falando sobre o crime, além de pedir consolo e força para os familiares da vítima e as outras acusadas.
Segunda a falar, Isabel Cristina se mostrou - durante todo o seu depoimento - bastante abalada e visivelmente nervosa. A ré negou participação no assassinato da jovem Jéssica Camila, mas confessou ter ajudado a ocultar o cadáver da vítima. O motivo de ter se envolvido nos crimes, segundo a acusada, era uma "profunda dependência emocional por Jorge". Questionada diversas vezes por ambas as partes, a mais velha dos três insistia em dizer que toda a sua participação era motivada por amor ao réu, por quem foi casada por quase 30 anos. "Jorge disse que foi a senhora que entregou a faca para ele. Se não foi a senhora, então ele está mentindo? Então ele não te ama, dona Isabel", alegou a promotora Eliane Gaia. Confusa, a ré demorou alguns instantes para responder e terminou por dizer: "Ou então ele não se lembra."
Abuso sexual, canibalismo e insanidade mental foram outros pontos levantados pela promotoria e debatidos com os advogados de defesa durante o depoimento de Isabel. Questionada por Eliane Gaia se a criança também comia a carne da vítima, a acusada divagou, mas terminou por afirmar: "Sim, ela comia. Ela já estava lá (na casa) e fazia parte da família". A carne, segundo Isabel, era preparada em uma grelha e misturada nas refeições. Sobre um suposto abuso sexual sofrido pela menor, Isabel negou prontamente. "Levamos ela para a médica, que disse que havia uma ruptura. Houve abuso sexual, mas não foi da gente. Ela já tinha passado pela mão de muita gente", alegou.
Bruna foi a última a ser interrogada, em etapa que durou aproximadamente uma hora. Tranquila, ela provocou risos na plateia em vários momentos da sua fala. Um exemplo foi o momento em que a juíza questionou se ela havia feito coxinhas com carne humana e a acusada respondeu: "Está repreendido!". A acusada afirmou que ficou aterrorizada com os assassinatos, porém não os denunciou por amor e Jorge e também por temer pela própria vida.
RECESSO - Por volta das 19h, os interrogatórios acabaram e juíza titular da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Olinda, Maria Segunda Gomes de Lima, anunciou pausa para breve lanche dos jurados. Na volta, anunciou que, por pedido das partes, o Tribunal entraria em recesso e só voltaria com os trabalhos na manhã desta sexta-feira (14), a partir das 9h. Neste segundo dia, terá início a parte mais longa do júri, em que o Ministério Público e a defesa terão até nove horas para debater. Quem falará primeiro, em tempo máximo de duas horas e meia, é a promotora.
A fase de debate do julgamento continuará com a argumentação da defesa. Juntos, terão mais duas horas e meia para falar os advogados de Jorge, a defensora pública Tereza Joacy; de Isabel, Paulo Sales; e de Bruna, Rômulo Lyra, Isis Cordeiro Aires, Ianara Rodrigues e Hellanderson Wilker. Se o trio for condenado, a pena pode passar de 30 anos. Os crimes pelos quais respondem são homicídio quadruplamente qualificado (motivo torpe, uso de meio cruel, impossibilidade de defesa da vítima e assegurar a impunidade de outros crimes), além de vilipêndio (agressão ao cadáver) e ocultação do corpo. Bruna ainda é acusada de falsidade ideológica, por ter assumido a identidade de Jéssica após a sua morte.
OUTROS CRIMES - O trio também é acusado de matar e esquartejar outras duas mulheres em Garanhuns, no Agreste pernambucano, onde os acusados também teriam feito comida com carne humana. Esses casos correm em segredo de justiça.
Blog Casinhas Agreste
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