Do NE10
Ayrton Senna da Silva não foi um só. E isso não é demérito nenhum para a imagem de um dos maiores desportistas da história, cujo desaparecimento completa 20 anos neste 1º de maio. Ele sabia ser vários: o homem tímido que não falava de sua vida pessoal, o piloto que porejava talento nas pistas, o competidor ambicioso que não tinha limites para vencer e não reconhecia outro objetivo que não fosse chegar em primeiro, o negociador implacável que levava dirigentes de equipes à loucura para acertar contratos, o homem de uma fé que quase o cegava. O ídolo carismático, que ao morrer provocou uma das maiores comoções coletivas já vistas no Brasil.
E Senna nem precisava correr tantos riscos a 300 quilômetros por hora, menos de 20 centímetros do chão num apertado e desconfortável cockpit que machucava suas mãos a cada virada no volante. Seu pai, Milton, já era um empresário bem sucedido quando o filho do meio começou a dar os primeiros passos no automobilismo a bordo de um kart, justamente construído pelo pai com motor de cortador de grama. Amante de carros e velocidade, provavelmente foi gene paterno que marcaria para sempre Ayrton.
O menino, que infância também respondia pelo apelido de Beco, não precisava daquilo, mas quando se tem gasolina nas veias é difícil mudar o destino. Já estava tudo formado e se o mundo dos negócios perdeu um candidato a poderoso empresário, o esporte ganhou um mito. Apesar de dirigir desde os nove anos só começou a competir no kart aos 13. Foi campeão brasileiro e sul-americano. No mundial bateu na trave duas vezes, o que para aquele adolescente com um apetite incomum para vitórias não significou muita coisa. Como ele diria mais tarde: "Vencer é o que importa. O resto é consequência".
A aurora da década de 1980 viu Senna deixar os carrinhos e começar sua vida nos carrões. E as conquistas não paravam. Ganhou na Inglaterra e Europa em todas as categorias: Fórmula Ford 1.600 e 2000 e Fórmula 3 inglesa. Nesta última foi campeão em 1983 com 13 vitórias, nove delas consecutivas. Foi nessa época que a imprensa britânica passou a chamar o circuito de Silverstone de Silvastone, em alusão ao sobrenome do brasileiro e suas incontáveis lugares mais elevados no pódio.
Tantos triunfos chamaram a atenção da Fórmula 1. Destino, aliás, que era inevitável. Uma Williams seria o primeiro carro da categoria mais nobre do automobilismo que ele pilotaria e, profeticamente seria o último. McLaren, Brabham, que contava no seu time com o então bicampeão Nelson Piquet e Toleman seriam as outras três. Ficou na Toleman, onde estrearia em 1984. Na segunda corrida, Senna marcaria seu primeiro ponto logo na segunda corrida, em Kyalami, África do Sul. Foi neste ano que ele deixou de largar uma única vez por não ter conseguido tempo - era assim que rezava a regra na época.
O carro era bastante limitado, diametralmente oposto ao talento de seu condutor. E era isso que o fazia estar constantemente entre os grandes. Isso ficou defintivamente marcado no Grande Prêmio de Mônaco, sua casa preferida. Largou em 13º lugar. Dezenove voltas mais tarde ultrapassava o segundo colocado, o austríaco Nikki Lauda - que ao final daquela temporada conquistaria seu terceiro mundial - e passou a ameaçar a liderança do francês Alain Prost, também da McLaren. Na 31ª volta sob muita chuava, a corrida foi interrompida no momento da ultrapassagem de Senna, mas o regulamento mandava computar as posições da volta anterior.
Ele ainda subiria ao pódio nos GP's da Grã Bretanha e Portugal. Não correu na Itália porque a equipe o puniu. Motivo: assinou contrato com a Lotus para o ano seguinte. Uma equipe tradicional que procurava reeditar boas temporadas teria em Senna o parceiro perfeito: um piloto jovem, talentoso e ambicioso. E na segunda corrida o resultado chegou. Mais uma vez debaixo de um dilúvio, desta vez no circuito de Estoril, Portugal, Senna cruzava a linha de chegada pela primeira vez na Fórmula 1, cena que se repetiria outras 40 vezes. A data: 21 de abril de 1985. A chuva também estava presente em sua segunda vitória, ainda naquela temproada, na Bélgica.
Sua característica de vencer a qualquer custo também ficou latente naquela temporada brilhante. Na última corrida do ano, na Austrália, perdeu o bico do carro quando estava em segundo lugar. Se parasse para trocar iria para a rabeira. Corajosamente conduziu a Lotus do jeito que pôde sem o bico mesmo. Mas a máquina não tinha a mesma fibra do piloto. Não aguentou e ele teve que abandonar. Mesmo assim ele terminou em quarto lugar, com 38 pontos e sete poles. Essas seriam uma marca em sua carreira. Mesmo quando o carro não era competitivo para vencer uma corrida longa, ele conseguia tirar tudo numa volta lançada para sair na frente.
No ano seguinte a Lotus era a terceira força do paddock, atrás da McLaren e Williams, pilotadas por Piquet e o inglês Nigel Mansell. Com o carro apresentando diversos problemas, Senna adotou a tática extrema de não trocar pneus e, com isso, tentar ficar o mais na frente possível. Mas também correr riscos de acidentes. Foi assim que ele liderou o Mundial pela primeira vez, depois de vencer o GP da Espanha ao chegar 14 centésimos à frente de Mansell. Ele também venceria nos EUA e repetiu o quarto lugar da temporada anterior.
O ano de 1987 marcou duas mudanças na Lotus. A primeira no visual. A mudança de patrocinador tirou de cena o tradicional preto e dourado para entrar um tom de marrom mais claro. A segunada, foi técnica. Os motores Renault deixaram a Fórmula 1 e o monoposto passou a correr impulsionado pela Honda, a mesma das Williams. Esta última seria fundamental na carreira de Senna, um casamento que renderia títulos e atuações que entrariam para imaginário do automobilismo. Foi nesse ano que ele venceu a primeira das seis em Mônaco e, na corrida seguinte, nos EUA. Porém, o conjunto Williams/Honda ainda era o mais forte e Piquet festejou o tricampeonato. Restaria a Senna o vice, que ele conquistou no somatório de pontos. Mas os dutos dos freitos estavam fora da medida permitida no GP da Austrália e ele foi desclassificado. Ficou em terceiro.
A MAIOR RIVALIDADE DE TODOS OS TEMPOS
Mesmo assim, o bom trabalho rendeu seu primeiro contrato com a poderosa McLaren para o ano de 1988. O companheiro era ninguém menos que Alain Prost, então bicampeão. A supremacia dos carros vermelho e branco era tamanha que Foram 15 corridas vitoriosas das 16 da temporada. Senna venceu oito contra 7 de Prost. O título veio na penúltima prova, no Japão, mas até chegar lá momentos marcaram a temporada para sempre. E também o piloto. O primeiro deles foi no GP de Mônaco. Senna liderava com 54 segundos de vantagem para Prost mas continuava a acelerar, o que levou o francês a declarar anos depois: "Ayrton não queria me vencer, queria me humilhar". Infantilmente, ele passou reto numa curva a 11 voltas do fim. Ali foi o ponto da virada. No México, Prost venceria novamente. Depois Senna emendaria seis vitórias seguidas. Na Itália, o companheiro abandonou e Senna vencia tranquilamente mas o combustível começou a ficar num nível crítico - na época era proibido reabastecer. Ele teve que diminuiu e viu Gherard Berger, da Ferrari, se aproximar perigosamente. A pressão o fez errar ao ultrapassar um retardatário e perder uma grande chance de ampliar a liderança.
Em Portugal, Senna chegou a imprensar Prost contra o muro. Foi o primeiro atrito entre os dois, mas que não teria consequência na temporada. As relações eram boas. Ambos chegaram nas duas últimas corridas com chances de ser campeão. O regulamento previa que os cinco piores resultados seriam descartados. Por isso, Prost precisava de dois triunfos, já que Senna tinha mais segundos lugares. Por isso, bastava ao brasileiro vencer uma corrida. Mas ele não admtia que fosse na derradeira. Queria ganhar por antecedência. E talvez essa tenha sido uma das maiores provas de genialidades já vistas.
Como era quase praxe, fez a pole. Na hora da largada, o motor da McLaren apagou. Aos trancos e barrancos, o fez pegar novamente mas já caíra para a 14ª posição. Dessa forma, Prost praticament desfilava sem ninguém à sua frente. Agora, muita atenção ao que foi dito: Senna caiu para 14º. Ao fechar a primeira volta já era o oitavo, a apenas OITO segundos do líder. O ritmo imposto por Ayrton era tão intenso que deixava os outros carros para trás abatidos como se fossem mosquitos.
Uma fina chuva começou a cair. Na décima-nona volta Serra era o terceiro. Prost liderava, pressionado por Ivan Capelli. Nessa volta, Capelli abandonou e, finalmente, os dois estavam mano a mano novamente. Nem parecia que haviam disputado o título volta a volta. Na 27ª, Ayrton entrou colado no carro de Prost na reta dos boxes e ultrapassou. Abriu uma boa vantagem e cruzou a linha de chegada na frente. A história estava apenas começando.
No ano seguinte, Senna e Prost dominaram a temporada mais uma vez, só que na reta final a vantagem era do francês. E o que aconteceu na segunda corrida explica como terminou aquele campeonato. Senna propôs ao companheiro que um só ultrapasse o outro a partir da segunda volta para evitar acidentes e ambos saírem da corrida. Em Ímola, segunda etapa, Senna largou na frente com Prost em segundo. Ambos mantiveram as posições até a quinta volta quando um acidente com Berger interrompeu a prova. Na relargada, Senna errou e Prost pulou na frente. Ainda na mesma volta, o brasileiro recuperou a ponta. Ao final da corrida, o bicampeão reclamou que o pacto fora quebrado. O campeão do ano anterior disse que o acordo valeria apenas para a primeira largada.
O clima azedou de vez. Ambos deixaram de se falar e até o clima na equipe ficou pesado. Como Senna tinha o apoio da poderosa Honda, ficou com a preferência. Prost garantiu que mudaria de casa no ano seguinte, mas não deixaria barato. Novamente ambos estavam ponto a ponto no Japão, penúltima corrida. Ao tentar ultrapassar o companheiro, que estava em primeiro, este jogou o carro em cima e ambos saíram numa chincane. Com a ajuda dos fiscais, Senna contornou a pista por um lugar proibido e conseguiu a vitória. Mas a manobra foi considerada irregular pela FIA e ele perdeu os pontos. Prost era tricampeão.
Indignado mas impotente diante das ordens superiores, Ayrton daria o troco no ano seguinte, mostrando o traço mais obsessivo de sua personalidade. Ele também sabia ser desleal. E o foi em 1990. Prost já estava na Ferrari e era o único obstáculo do brasileiro rumo ao bi. Novamente em Suzuka ele nem precisava vencer para ser campeão. Logo na primeira curva, jogou sua McLaren em cima do carro vermelho. Ambos foram parar na areia. Senna saiu do carro, deu as costas ao rival e foi comemorar. Em sua defesa, ele afirmou que a mudança da pole para o lado sujo da pista o fez forçar a entrada na primeira curva pelo lado limpo, o do segundo colocado no grid. "Se a pole estivesse colocada na esquerda, eu teria chegado na frente na primeira curva, sem problemas. Que foi uma péssima decisão manter a pole na direita, e isso foi influenciado pelo Balestre, isso foi. E o resultado foi que aconteceu na primeira curva. Eu posso ter contribuído, mas não foi minha responsabilidade", disse, citando seu desafeto e então presidente da FIA, Jean Marrie Balestre.
TERCEIRO TÍTULO
No ano de 1991, finalmente alguma equipe conseguiu rivalizar de igual para igual com a McLaren. Era a Williams, que tinha em Mansell seu principal piloto. Prost continuava na Ferrari, mas equipe italiana encontrava-se em franco declínio. O início da temporada não poderia ser melhor. Senna venceu as quatro primeiras corridas, entre elas, no Brasil. Essa, mais uma para a extensa galeria de feitos sobre-humanos do tricampeão. Apesar de ainda ter um carro veloz, a McLaren já ficava para trás em tecnologia. As Williams eram equipadas com cãmbio semiautomático, duas abas atrás do volante que permitiam aos pilotos não tirarem as mãos do volante para troca de marchas. O carro de Senna ainda era no modelo tradicional, com a alavanca de marcha tão comum em carros de passeio.
A diferença era que um piloto de Fórmula 1 tem que segurar o carro com uma mão enquanto troca de marcha a mais de 200 km por hora. Pois vamos à história. Mansell, que perseguia o brasileiro na liderança, teve um pneu furado e perdeu a segunda posição para o companheiro Ricardo Patrese. Logo depois, ele abandonaria com um problema justamente no moderno câmbio de seu carro. Senna liderava com tranquilidade quando as marchas de seu carro começaram a quebrar. Para mantê-las engatadas ele precisava segurar a alavanca, enquanto domava a máquina com a mão esquerda. Para piorar, começou a chover. Literalmente no braço, o brasileiro levou a McLaren até o fim, mas de tão desgastado precisou ser carregado para sair do carro. No pódio, quase não teve forças para erguer o troféu. Tempos depois ele diria que viu a vitória muito perto e não seria daquela vez que decepcionaria a torcida.
Mansell começou a reagir a partir da segunda metade da temporada ao vencer três corridas seguidas. O brasileiro deu o troco e chegou ao Japão, sempre ele, em vantagem. Se Senna subisse ao pódio o terceiro título estava garantido. Logo no início da corrida, o britânicou errou e foi parar fora da pista. Mesmo assim, Senna liderou até a última reta, quando abriu para que seu companheiro Berger vencesse pela primeira vez na carreira. Na Austrália ele encerraria a temporada no lugar mais alto do pódio.
VACAS MAGRAS
Se a McLaren conseguiu fazer frente às Williams em 1991, mas conseguiria ver os bólidos ingleses no ano seguinte. Com um carro infinitamente superior, Mansell e Patrese terminaram em primeiro e segundo lugares, respectivamente. Mansell dominou as cinco primeiras provas. Mas Senna tinha talento para fazer seu carro render mais do que parecia. Em Mônaco, por exemplo, segurou o adversário em segundo lugar durante sete minutos. Mansell reverenciou a genialidade do rival: "Foi o segundo lugar mais bonito da minha carreira". Mas Nigel estava imbatível. Foi campeão com nove vitórias. Senna triunfou três vezes e acabou em quarto lugar, atrás de um jovem e talentoso piloto alemão chamado Michael Schumacher. O mesmo Schumacher tomaria uma tremenda bronca de Senna após provocar uma acidente que tiraria o tricampeão do GP da França.
A última temporada do brasileiro na McLaren marcou o retorno de Prost às pistas depois de ser demitido da Ferrari em 1991 e tirado férias em 92. O domínio da Williams era o mesmo assim como o a má fase da McLaren. E era para lá que o francês iria. O contrato havia terminado e, para completar o desespero geral, a Honda avisou que estaria fora da Fórmula 1 a partir de 93. Coube à equipe do brasileiro a força - inferior - de uma versão antiga do motor Ford V8, menos potente que os propulsores da Benetton. Senna resolveu fazer um contrato por corrida e passou a receber cerca de US$ 1 milhão por prova. E antecipado. "No money, no race (sem dinheiro, sem corrida)", dizia.
Senna sabia que com aquele carro não iria ser campeão, mas mostrou o quanto um gênio consegue fazer as engrenagens de um carro superarem os próprios limites. Só para efeito de comparação com os tempos atuais é algo que o espanhol Fernando Alonso consegue fazer com a Ferrari numa ou noutra corrida desde 2012. O que Senna fez foi transcender esse esforço a um nível quase inimaginável. O show começou no Brasil, na segunda prova. Ao tentar antecipar as mudanças do tempo em São Paulo, ele trocou os pneus antes dos adversários para tentar vantagem. Quando as primeiras gosta de chuva caíam, pôs pneus para chuva.
Quando o tempo ensaiou limpar trocou para os lisos. E correu tremendo risco de passar reto numa curva mais molhada. Foi assim que ele ultrapassou o então líder Damon Hill com a mesma malandragem com que Romário - na época o melhor jogador do País - deixava zagueiros para trás. O melhor ficou para o fim. Ao cruzar a linha de chegada, Ayrton não pôde dar a volta da vitória pois os torcedores invadiram a pista. Ele parou, foi retirado do carro e sua comemoração em meio à multidão é uma das imagens mais marcantes, e por isso repetidas à exaustão, da história da Fórmula 1.
A corrida seguinte seria na Inglaterra, em Donington Park. E se Senna tivesse feito só o que ele fez naquele 11 de abril já teria seu lugar na história do automobilismo. O tempo oscilava no autódromo entre seco e chuvoso. No treino oficial, pista seca. E em condições normais, a McLaren era quase uma carroça em relação aos foguetes da Williams. Ainda assim, Senna fez o quarto tempo. Prost, Hill e Schumacher estavam à sua frente. Mas a largada foi sob chuva. Quando a luz verde acendeu, Schumi deu um chega pra lá em Senna. Karl Wendlinger da Sauber, se aproveitou e pulou para o quarto lugar. Foi então que a terra parou. Na primeira curva, Senna era o quarto novamente. E saiu deixando todos para trás como se estivessem em primeira marcha e ele em sexta. Isso mesmo. A primeira VOLTA a ser completada tinha o piloto brasileiro em primeiro. Foram quatro ultrapassagens no meio da chuva e com todos os carros ainda colados uns aos outros.
Ainda tinha mais. O tempo bipolar de Donington obrigou os pilotos a trocas de pneus mais frequentes que o normal. Na 32ª volta, um pit de 18 segundos da McLaren tirou a liderança de Ayrton. Prost estava na ponta e com 11 segundos de vantagem. Senna não admitiria tanto esforço na primeira volta para nada. Começou a tirar a diferença com surpreendentes dois segundos por volta. Na 38ª volta começa a pingar água do céu e Prost, cuja inabilidade sob pista molhada chegava ser cômica, correu logo para colocar os pneus adequados. Senna arriscou e manteve os seus lisos, aliás como fizera no Brasil. E se deu bem novamente. Primeiro porque seu rival deixara o carro morrer bisonhamente nos boxes. Quando voltou estava justamente atrás de Ayrton Senna, só que com uma volta atrás.
Ele acelerou tanto que passou boa parte da prova com uma volta de vantagem sobre todos os outros carros. O show também teve direito a volta mais rápida da corrida passando pelos boxes ao invés da reta normal. A curva para entrar nos boxes era mais curta do que a da pista tradicional. Além disso não havia limite de velocidade no chamado pit lane. Ainda é preciso dizer que depois de tudo isso ele venceu? Sim, ele venceu. E ainda venceria em Mônaco (pela sexta vez) e seus estimados Japão e Austrália. Foi na última prova que, sem o saber, o mundo se despedia de dois gigantes.
Senna venceu com tranquilidade e garantiu o vice-campeonato. Prost ficou em segundo, mas campeão. Após hino nacional, o brasileiro puxou o velho rival para o lugar mais alto do pódio. A rivalidade, que começara sob muita chuva no GP de Mônaco de 1984 terminava com ambos sorrindo e finalmente reconciliados. Foi a última vez que ambos fizeram parte da festa da vitória: Prost porque estava aposentado. Senna porque não completaria as corridas do ano seguinte.
WILLIAMS E O FIM
Senna queria um carro competitivo para 1994 e sem Prost na Williams o caminho estava livre. Ele finalmente seria piloto do primeiro carro que dirigira na Fórmula 1. Mas, por ironia do destino, "o carro de outro planeta" ao qual ele se referia sequer chegava nas nuvens. A Williams não tinha equilíbrio, oscilava perigosamente nas curvas e, para completar, a Benetton entrava com toda força na competição, coisa que ensaiava nos dois anos anteriores. Com uma máquina inferior, Senna passava a repetir o que fizera nas vacas magras da McLaren: dava tudo no treino para conseguir alguma vantagem na corrida. Foi assim que ele fez a pole no Brasil. Mas teve problemas e abandonou na 55ª volta. A segunda corrida seria o GP do Pacífico, no Japão. Desta vez foi pior. Mesmo com a pole, o brasileiro foi tocado por Mika Hakkinen ainda na primeira curva e saiu.
Sem pontos na terceira corrida, a pressão era enorme. Novamente ele ficou com a pole, a 65ª. Mas o fim de semana começou tenso com um grave acidente do brasileiro Rubens Barrichello na sexta-feira. Ele já reclamava que as condições de segurança deveriam ser revistas, pois todos os equipamentos eletrônicos foram banidos para aquela temporada, mas a potência dos carros não diminuiu. A conta era fácil de fazer: menos recursos, potência em alta, risco maior de acidentes.
As coisas pioraram no sábado. Na curva Tamburello, o austríaco Roland Ratzemberger perdeu a asa traseira do carro. Perdeu o controle bateu violentamente na curva seguinte, a Villeneuve. Foi levado ao Hospital Maggiore, em Bolonha, mas morreu oito minutos depois. Na hora da corrida, a nuvem cinzenta continuava sobre a pista. Na largada, J.J. Letho perdeu o motor da Benetton e foi atingido na parte traseira do carro. O safety car entrou na pista e a prova foi reiniciada. Em primeiro lugar, Senna acelerava para evitar o assédio de Schumacher e na sétima volta seu carro bateu a cerca de 200 km/h no muro da Tamburello.
O brasileiro foi atendido ainda na pista e depois levado de helicóptero ao Hospital de Bologna. Às 18h05, horário italiano, foi declarada sua morte cerebral. Uma hora depois, a morte clínica. A explicação é que uma barra da suspensão dianteria perfurou a viseira e atingiu a parte frontal da cabeça, pressionando-a contra a parte de trás do cockpit. A barra atingiu a artéria temporal e o impacto uma fratura na base do crânio. Com a perda de sangue e massa cinzenta não havia nenhuma interven
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